quinta-feira, 12 de novembro de 2009

lhe abandonar

eu estou sem poemas
eu rompi nossos laços
eu estou cheio de saudades

embora eu queira lhe rever
pra dizer o que faltou
em outras palavras
eu ainda lhe tenho amor

a noite quente me diz isto
explicíta no céu a cor
das palavras o que restou
de tudo o que ainda ficou

aqui, no coração
garganta, alma
onde os olhos esperam
como barcos marejados

e no cais abandonado
eu também espero,
cheio de amor
(e também pudor)

por haver lhe deixado.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pierre

Pierre Rivière em suas mãos
nas páginas impressas
as palavras de Foucalt,
os seus olhos.

os seus olhos são demasiado belos
tais quais bolas de gude
do mais belo marrom
do marrom cristalino
qual em seu essencial,
puro não é.
mas os seus olhos
tem o marrom da natureza
e são
e sua pureza me espelha
e me espalha
feito um Pierre bom.

mas quando Pierre saiu pela porta de traz
deixando os corpos ensangüentados ao chão
com sua tez de tristíssimo marrom
os teus olhos brilharam por isto.

à Daniela Avancini

não-ser

derreter
porvir
indo mais pro não-ser
tentar escrever
ou apenas tentar
saudade do meu amor
faz calor aqui
o som esta alto
as palavras embaralham-se
as crianças brincam
uma aeronave plana perto
- estrondo
ruído -
que não comove
nem tampouco doí
a nao ser o mormaço
e esta saudade
por ti
porque ontem
você partiu silencioso
e agora anoiteceu
e não há nada
mas as cigarras trinam a música de Carlos,
e voce se foi.
mas eu ia dizer sobre o céu
mas faz um calor sobre-humano.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

servil

linguagem
é questão babuína
babuínos foi provado
que não fomos nós,
eu vi na televisão.
o dia amanhece.
escrever
outras coisas
que não só
trabalhar
pro poema
me deixa exausto,
posto que ninguém
vá entender lhufas
por que não quer,
mas eu sou astuto
e escrevo servíl
à poesia
e só.
quer leia quer não
eu sou um televisor blindado.
porquanto, também poético.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

poema quebrado

cavalo sobre nova iorquina rua
sóis edificações ao fundo
descrição memorial seria
pelo tal esta fotografia.
qual é a grafia de meu olhar?
sobre isto que é síntese de imagem
e que rebate sobre mim guestáltico
embora eu não saiba o que isto signifique,
pois isto é quase pra mim
algo enigmático demais
porque as palavras por fim
é o que me traz
às visões servís a algo maior,
a poesia, e só.

embora isto seja tudo.

à Lígia Nocera

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

infortúnios

a deixar lágrimas
sobre os ladrilhos da calçada
encharcados pela chuva que há dias
cai, incessantemente, num diluvio
abarcado pela montanhas deste aquário
que é minha cidade, deste aquário industrial
e junto ao tal dilúvio,
eu também caio.

em nuvens

entupir-se de xarope de cola
lembrar-me de você
fotografia de franz marc
tão "gauche"
tão para o quadro fauve
tão sozinho sobre as paredes caiadas
do quarto da criada de G.H
mas a noite é tão para me lembrar
de você
tão cheia de luares
e de ventos quentes
e o sono vem em nuvens
e o céu é lilás e translúcido daqui.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

mergulho

no mar
na bruma
do amor
em si
devia
mergulhar
você
eu
em meu
coração
em dor
a lembrar
a lembrar
que temos
amor a ver
mesmo
que assim tão sós.

prosa gasta

quando a poça espatifou-se
sobre desníveis de paralelepípedos no asfalto,
sob carros, pneus e estilhaços de água de chuva em mim
eu vim a entender algo do dia e da poesia que viria a surgir
deste urgir de entendimento de síntese de coisas sub-unidas
em palavras construídas a partir dos olhos,
e eu quero mesmo é isto; reestruturar linguagens,
e não ficar suando sobre prosas gastas,
na vulgaridade de minha fala,
embora isto seja tão prolixo
e eu mesmo não tenha entendido
quaisquer das intenções propostas.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

paz e morte

amanhece
e eu preciso de palavras que justifiquem
esta manhã nublada e lilás de morte.
não que isto incomode, ou venha a tal,
mas certo óbito é inconfundível
ao constatar-se pela ausência,
e por entre outros vazios.
manhã destituída
de algo, e de sono
e um bicho bebe
duma poça suja
alí
e acaba por me irritar
e tirar-me de algo de paz
onde esta morte me fez
e me traz ainda
então eu,
ao diluir palavras
e concentrá-las
tento buscar algo que se perdeu
alí:
onde o bicho bebia.

domingo, 20 de setembro de 2009

vil

claro
industrial
dor
claro só aqui
pois escura
é minha cidade
de onde sou
de onde fui
de lá
de lá
de onde não mais sou.
mas não mais sou
ou seria eu
ainda?
a criança feliz
de os pés sobre a poça cintilante de mercúrio
no óxido de algo furtacor
a refletir sob os pés
o céu multicolor
ácido
anil
contra industrias,
sangue germânico
e matéria vil de espírito?

tão prolixas quanto

e eu perdi inúmeros poemas,
embora mais valesse a vida
em sua coisa empírica,
mais valesse para que viesse
cheia de poesia,
de palavras entre si tão prolixas
mas escritas com amor,
tão prolixas quanto este escritor
a quem vos escreve.

sonhar regressar

eu feliz e triste
estar vivo
relativo é
mas eu não sou
outra coisa que antes
eu fui.
e eu fui.

sonhar é o que me restou
sonhar em regressar
em voltar
embora isto não seja bom,
isto não seja bom.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

porque eu choro

porque eu choro
nessa manhã onde todos estão felizes?

neste rio de lágrimas
o meu peito arfa entre o vazio e o cansaço

até que a noite caia num deus iluminado
e então eu me redima de tudo isto

de toda esta dor.

tristes timbres

desejo de morte
num folclóre hungaro
e o frio
e a chuva
e a minha estupidez
perante à lua
do meu amor
que a crueldade
da peça húngara
acabou por encobrir
e encobriu a mim também
escorrendo sobre as paredes
impregnadas
de tristes timbres.

tenho fome

tédio dói
assim como dóem
os dedos
e a chuva fria também dói
e em dor eu sou incapaz
e arfando de fome
física e romântica
também.

domingo, 30 de agosto de 2009

moçambique

fazer tentar
vir a alcançar
palavras aleatórias
suspendidas
de promessas
e sem culpa,
e o ar da noite
madruga,
cobertores esperam,
amor não está.
na barra da lagoa
eu vou te encontrar
em sonho,
no Pântano
em Açores
ou mesmo em Moçambique.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

lembrar mar

dor cor de anil
de mar
a bater em ondas
na janela
de um sonho longinqüo
pelo tal desmemorado
ludibriado pelo tempo
em ondas metafísicas
de lembranças de mar,
posto que em minha dor
seja apenas lembrar
o fazer maior.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

minha dor

chorar só,
sem mais de meu amor.
afago não tem mais,
carinho acabou.
e quem não amou
não quer saber de minha dor.

sobre o chão

você retificou
e se fortificou
sobre minha dor sozinha
quando estive sobre o chão
por justa perversão
eu sei
que por perversão
cuja a qual reconheci
em seu timbre de voz vazio
revestido de alegria anil
ao me ver alí
sobre o chão tão frio
e de perversão
eu jamais fiz gostar
mas sequer fizeste lembrar
que seu escudo eu fui
a lhe protejer de todo o mal
de que o mundo é capaz
como pude fazer,
embora afundado em dor
e tão sozinho
eu não mais possa afirmar meu amor
nem o meu carinho.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

london´s baby

não sofra por essa criança
muito embora não seja eu quem vá beijar-te.

se eu bem pudesse,
deitava-me em teus lábios doces para todo o sempre.

my baby...
my fake london´s baby.

vem sob whisky
irremediávelmente.

poema não

não me deixe
apenas neste
quem sabe poema talvez.
e meu amorzinho
com frio aqui
sozinho, definitivamente.
vióla diminutiva.
tesão solitário.
isto não é um poema.

Narciso

menino bonito
menino bonito
outros vários
olhos estes
olhinhos
em meu coração
narcísico.

e agora

você é um verdadeiro ursinho, menina
e você me deu sua boca contra a minha
ao doce acaso
ao dilúvio da madrugada
assim impunemente
e estou tão sozinho agora.

em verdade

em verdade,
eu só queria era que você deitasse
com pessoas mais suaves

em verdade,
meus dias se vão
de planificar sua vida
em minha solidão

e não mais transa e balinha
pois agora eu estou sozinha
e você já não é mais minha.

plumas

cachorrada incessante
late ao cair da noite
bem longe
distante mesmo
em meio à mata encharcada
pela água que cai incessante
sob a lua
sobre as ocas
sobre as plumas.

plenitude

lembre-se de mim
por favor
piano redentor
em sua melodia
nessa manhã vazia
em sua crônica chuva
de dias e dias aqui,
no coração,
sob ladrilhos
embora quentes
embora amor
vamos nessa plena manhã,
nessa plena manhã de garoa plena
de branca plenitude.

terça-feira, 14 de julho de 2009

noves fora

boca sozinha
só coração
taça quieta
erva não há
tão como
não há
lágrimas também.

deixe eu olhar pro fundo de teus olhos
e descobrir se você me quer mesmo.
deixe eu olhar pros teus olhos marrons
opacos e tirar a prova dos nove
de se estou só
ou uno em nós.

lusitano

já passa das quatro
a lua em seu quarto
o violão calado
o vinho oxida no ar,
na taça,
sono não há.

há é saudade
esta dor irremediável.

sábado, 4 de julho de 2009

fresta

lua amarela
sobre antenas de rádio vermelhas.
e eu só posso olhá-la,
por tal fitá-la,
por uma fresta
que resta
no triz
da janela,
pelo tal frio
embaçada,
e o desenho japonês
em seu som orienal
me dá paz e confusão,
embora madrugada seja
enquanto versejo
acerca de coisas
que por fim
chegam,
dão por vir,
à ausência de meu amor,
e meu amor está aqui ao lado,
e meu amor está longe,
e meu amor eu também sou
eu de mim,
narcísico,
mítico de mim,
ao que me perco
alcoolizado
e de coração
amortecido
pelo tal perdido
embora eu devesse
era nunca ter te perdido.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

tesos conceitos

sobre telas azuis
minhãs mãos
trabalham
à tinta
à tona turquesa
e um rosa carmim
em seu fim para mim
apenas
e as janelas suam
os pincéis esperam
há amarelos também
mas dentro de negros
de ultramar
lembro-me de céu lilás
sobre lilázes ladrilhos,
monocromático
de que eu gosto tanto,
disso que não
são
contraposições
de chapadões
de cor
de meus olhos
cheios de luz
de drama
das tramas
da rima da pintura,
de sua feitura,
dedos em pincéis
tesos
sobre tesos fios
de algodão
ou de tecido sintético,
seja o que for,
acima de tudo,
tesos conceitos plásticos
escritos aqui
nesta linguagem
de tortos conceitos
quando corro contra o tempo
do relógio, da madrugada
do frio, da impaciência,
da televisão,
embora amor.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

c´est la vie

a vida
é como um fio de veludo.
eu tive esta compreensão
no meio do campo
num sítio bem distante
ante a um cercado
de arame farpado
que me separava
das vacas e dos bois
nossos iguais
sobre fina garoa e céu
cinza coisa bucólica,
e houve uma lágrima
que me mostrara
que a vida é mesmo um fiozinho
e que meu amor
não mais voltaria.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

das antike

eu
por sob
lágrimas
de alegria
e de saudade
de um tempo
restante apenas
em fotografias
esmaecidas pelo
tempo,
e a memória dalí
salvada surrealmente
pela celulose
matéria
e mais nada
e as traças
que nao ousem
tocá-las,
as fotografias,
de quando eu
ainda nem havia,
e Margarida era feliz,
e o mar,
e papai,
e a decada de setenta
em seu rompante
de futuro
embora bucólicamente
em tom de poesia
da mais pura,
cores pardas
e tons suaves
e sorrisos de alegria
a um palmo
do que se tornaria
degradação e caos
e loucura
da humanidade
neste inicio de século
e fim de era
de um cosmos
que não mais existe para nós
se não em contrafações
diluídas em milhões,
e as raízes já apodreceram
a um bocado de tempo.

felizes éramos quando ainda não éramos nem nascidos.

pelo entanto

chove
sono não chega
cega-me a vista
um cisco
e pelo visto
pelo entanto
não há nada que se escreva.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

madrugada eterna

chuviscos voltam a cair
sob os casarios e os jardins

medito sobre o parapeito
dos janelões de sombras e reflexos
de postes e resquícios de luzes sob céu

é madrugada eterna
e é melhor assim

ao que constato
que minha cidade
dorme eternamente.

aconchego

seis
matina
madruga
ainda
novo dia
vem vindo
palavras também
suponho isto
e estes pobres versinhos
fazem só me aconchegar,
mas ainda tenho meu soninho
pra tirar
sobre os travesseiros
e sob o cheiro
do meu amor.

acerca de meu sol saturnino

quase amanhece

em mim

aqui

e quase amanheço

à ti

em meu sol de pedra cinza e maçica

e nada precisa de ser claro entendível ou belo

para que seja mesmo belo

é o belo é belo para o homem burro

eu

que não enchergo em meu sol bruto

de cinza aspereza feito

feito não sei de que e de que matéria

sua beleza.

e me perdi à ideia inicial

embora

ninguém me leia

embora

isto eu não queira,

eu não queira.

terça-feira, 9 de junho de 2009

irremediávelmente

mamãe dorme aqui
tão próxima de mim
como há tempos
não dormia
desde quando
criança eu era
talvez
tão cansada e resguardada
pelo deus do sono
e do descanso
e a chuva lá fora
constante cai
constato que é
joinville minha
ainda
triste e linda
triste e linda.
mamãe também,
com seus olhos marejados
de cansaço e amor
quando cheguei
da estrada
em chuva.

meu estado febril,
minha coriza,
minha melancolia,
me impedem de garantir
a coerência,
tão como o término
deste texto, cujo o fim
possivelmente seria

"e eu não posso no tal entanto
ama-lá irremediavelmente"

ou

"e ela dorme como um anjo
ou como um pássaro quando dorme."

segunda-feira, 1 de junho de 2009

imortal

enjôo.
eu não queria isto,
mas foi um vômito
de palavras
que nunca de todo haviam existido
por sob a pele
por sobre agulhas
que me dão medo.
definitivamente
eu não gosto do hospital
de suas luzes
do tom impessoal
eu sou gente
amor,
sim.
mesmo sendo tratado friamente
como nada
por entre médicos
e enfermeiros,
como se eu não fosse
um tanto quanto
o gênio de um gênio,
aquele que não morre nunca,
meu bem,
eu irei renascer das cinzas.

essência

eu queria era ser esquimó.
cheiro enjoativo de aromatizador de ar.
esquimós pelo tanto de frio
não se tocam
ou pelo tanto de frio
muito se aproximam.
eu queria ser esquimó
e perdi completamente o poema do qual vislumbrei
à beira da varanda fria
quando a lua caía
sob a coisa vazia
da noite fria
fria
sobre frios azulejos
eu exausto do vinho
da vida
do xarope
da uva
da fruta
e também da essência de que nâo mais têm.

fria hora

horas passam ao vento
à madrugada
narinas e pés congelam
cada gole da coca-cola gelada
é um momento vívido
dedos frios sobre teclas impessoais
quais não dizem nada por si sós
nem tampouco acerca de nós
isto jamais.
medo desta hora gelada
as seis de uma manhã sem nada
marca o ponteiro
sem nada que esquente
o tempo corre
meu medo discorre
da vida
eu estou nessa cama há dias
escondo-me sobre os cobertores
mil versos perdi à deriva das horas vagas
que correm sob película plástica
de um relógio digital
impessoal
ao lado da cama
ponteiros morrem
sequer levanto
medo de uma morte iminente
à vida que eu já esvaziei
de querer.
durmo têm dias com a culpa
das horas já antigas
passadas
esvaziadas
de uma juventude
por mim desconhecida.
não tem sol há dias
júpiter também se foi
meu amor inexistiu
eu não existo
escondo-me
sob profusões confusas
de palavras à merce da dor
de não mais existir
de nunca haver existido
de fato
de todo
quem vai saber?
está frio aqui
deus não há aqui
e eu tenho medo de morrer.

domingo, 24 de maio de 2009

www.brumasdeondas.blogspot.com

há as poesias de "Mergulho", com excessão de poucas!

no one star

quando cai a noite
é quando cai o cálido
da noite
no cálice onde as estrelas
nascem num instante
e se entrelaçam em constelações.

hoje não há nenhuma estrela.

um cão ladra

a ladrar o cão
em meio a mata molhada
esta sacada é como um chapadão
daqui o ouço no osso do ócio à vida deste anoitecer
quando os passarinhos retornam ao calor dos ninhos
retomemos a noite, a cama, os sonhos e o descanso.

por onde os olhos passam

chuva diluvio garoa
sobre a estrada cinza
iluminada por faróis cintilantes
luzes ácidas contra cores pardas
à silhueta da mata das montanhas
caindo a noite
eu caindo no sono
no banco do passageiro
palpebras pesam
olhos semicerram-se cansados
querendo sonhos
viajar é bom
me leve pra longe que eu vou
caminhões cargueiros
levantam véu de água do asfalto
produzindo uma fumaça de vapor frio,
a silhueta das montanhas é bonita assim
quando tem mais luz atrás a se pôr
assim o sol se vai
embora as nuvens carregadas
já o tivessem encoberto
nasce outra noite
em meu peito,
no automovel,
sobre a estrada
o céu.
sem lápis e papel
eu inscrevo este poema por onde os olhos passam.

primordial

a luz da lua
é a luz do sol
refletida em cinza superficie.

e ela,
ela,
o meu amor, que tanto chora, que vive na lua,
que chora no mar materno este vida água ondas peixes mar-bravia nervos e psique,
ela porá os seus pés no chão?
se não, saturno a fará pô-los pólis saturnálias
grécia azul.

a poesia é um devir da realidade
entre ser e não ser e ser só,
sobretudo.
a poesia é atemporal
e e eu só poderia
escreve-la e perdê-la em seu ideal
primordial
no peito, no coração.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

twitter-poem mórbido

preciso de um twitter.
eu o transformaria num twitter-poem.
tenho muitos poemas pra editar
insonia
preguiça
to só
amanha
etc...
frases-twitter;
ai...você não me quer mais...
o violão tá quieto
eu cansado embora completamente sem sono,
você se foi...
meus joelhos estão gelados.
eu sou do signo de capricornio.
vou entrar num bate papo...
mas não consigo ter intimidade
com gente virtual de madrugada assim,
sozinho, desagasalhado, sóbrio.
beber whisky era o que eu queria
de fato
desde o início.

terça-feira, 5 de maio de 2009

eu só queria isto

uma canção
me batia tanto
no peito
agora
não bate mais

eu estou tão frio
ao som
as palavras

em verdade
eu queria só
amanhecer ao sol da manhã
e adormecer contigo sob o luar eterno.

o que me leva a pintar

Trabalhar para a emoção, primordialmente, é o que me leva a pintar. Mostrar a dor a qual todo mundo receia alcançar em si para levar à obra. Ou, por pudor, não trazemos a desesperança à tona da tela. Esta matriz motora da contemporaneidade, a solidão, em meio a tanta gente. Há em todos os trabalhos um porvir de alegria pequenino, janelas possíveis, esforço-me para encontrá-las. No entanto, provindos da melancolia existencial, que é a origem de minha necessidade de criar imagens que sintetizem tantas imagens que morrem o tempo todo, sobrepostas aos montes; criar códigos para compreender o que eu nem sei, um novo porvir para mim, chaves para sair deste lugar aqui, chaves pictóricas; necessidade de redenção, de salvação da carne, criacão. Deus, deus eu de uma religião quem dirá morta pela ciência, pela mídia: a pintura. A loucura de Gogh, de Picasso; a minha, mas eu não estarei em enciclopédias nem tampouco em versículos. Se ninguém jamais estará em versículos, atiremos as bíblias pelas janelas, se estas não servem mais ao nosso puro desejo egocêntrico, sejamos hereges. Se a ciência não nos é capaz de tirar esta angustia existencial descrita aqui (mas que não cabe aqui) deixemo-la ir também. Deixemos este devaneio subjetivo aos propósitos hipotéticos ir também, talvez a pintura também se vá...
O dia acabou de se ir.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

alegria

mesmo com toda a tristeza que a gente tem em nosso peito
quando é noite após noite sem nenhuma estrela
nenhum colo
nós iremos desembocar em alegria.
morrer entre o texto para que o seu fim
guarde renascimento, como a um porvir mais generoso.
um presente guardado ao fim do triste texto: alegria.
a vida é triste e desumana
mas há tanto amor no peito, há amor aqui,
a refletir amor sem fim,
espelho de amor,
felicidade.

ceia farta

mamão
mamãe
manga
papaia
fruta se come e se ama
de modo que se ama e se come
o amor e a presença de pai e mão,
mãe da gente, da nossa gente, terra,
cesto de frutas tem tudo quanto é amor maternal.
nas cabaças tem também.
tem manito manito sinos pura medicina colombia feijão
vagem abóbora jo no lo puedo regressar jamais ao amor
este que tem na lagoa do Perí, na casa do meu amor,
mão papai, peixe mamãe,
e assim se dá a ceia do seio que nos faltou:
da naturaleza.
De modo que eu não comi meu pai e minha mãe
até que ficasse saciado com fartura.

pintura poesia

olhos azuis do felino que me fita contra os olhos azuis do céu.
escrever por escrever, exortar,
por que este sentimento me vem tão visceral assim,
nesta noite de segunda feira sem estrelas?
este sentimento visceral de palavras transbordando sobre mim
e não há tempo, este sentimento de que não há tempo pra esperar
que as palavras condenscem as idéias por si sós; poesia.
poesia é isto: palavras a merce de lágrimas.
de lágrimas de alegria também.
estas são ainda mais viscerais.
os japoneses não param de rir por sequer um segundo,
mas jamais chegam a chorar, em vida, de alegria.
eu acho.
mais que acho, sinto.
poesia não é crer que algo haja sido.
poesia é isto: sentir e pronto,
lançar como queiram as palavras,
as palavras que escolhem as cores
com as quais serão revestidas,
texturas, volumes, numa determinada composição,
a qual, louca ou não, lógica ou não, represente uma coisa ou não.
isto é pintura.

não sei

este sítio tá com cara de norte-americano do norte americano americano do norte.
eu também sou negão do Bronx, do Brás,
nesse sítio.
porcos, bois, Chinatown, Liberdade,
porque eu quis este sítio?
pra me libertar das amarras cósmicas
da cêrimonia de não poder
ser e só no poema
apenas?
ser essência também.
lindo e sujo.
ordinário, no sentido de que deixe a dever à Lingua Portuguesa,
à academia, à tradição, à tradição vazia dos novos poetas do
neo-romantismo
de todo esvaziados de amor à decadencia de uma civilização em seu fim
virtual
neste inicio de século razo de todo à beira da degradação;
um cheiro de esgoto me traz lembranças da cidade
de minha infância, em seu mar de esgoto a céu aberto
a desembocar sob os edificios pós modernos.

Cuba

aeronaves
sobrevoam
cabeças
nossas
nós
deitados neste campo sem fim
onde há mais estrelas do que em qualquer lugar que for
além de milhões de lugares que não cabem aqui
todas as constelações armadas
num móbile infinito, suspenso, físico, pelo tal metafísico
estrelas de poeira mas eu não posso pegá-las
estrelas em poemas simplesmente transformam-se.

aí o telefone toca e o atendente de telemarketing
da 'american express' desliga o telefone na minha cara,
em plena sete e cinquenta e dois da noite.

e eu digo: foda-se a indústria.

pela segunda feira
pelo crash
pelo embargo
pela destruição do que seria um poema
imensamente romântico,
agora político-romântico:

meu amor vamos à Cuba

lá onde as estrelas brilham límpidas
sobre mães
sobre mares
sobre mares sem fim
sobre a gente preta.

domingo, 3 de maio de 2009

wash

noite noite
preciso aconchegar-me
mamão
mamãe
amor onde onde
bons ares
eu vou te encontrar
no mar amor
no mar do amor
no sal sol amor mar chuva lua sol mata folhada molhada de folhas lágrimas menos razão na poesia por favor uma voz pede, uma vez.
uma vez este blog roubou um poema meu.
eu estou sem óculos.
escrever estritamente factual-pessoal são anotações ou neurose pura
uma vez disse Yung.
hoje eu pensei em ti, menina.
madrugadas
roupas
lavar tudo.

dilema

eu escrevo poemas
porque talvez não saiba escrever
é o dilema.

escrevo subjetivo
puramente pessoal
momentaneo
nao essencial
romantico
clichê
a escrita não precisa de mim
mas eu preciso dela.

não consigo expressar as coisas em sua totalidade,
representá-las vivas,
aqui.

eu não escrevo poemas,
mas sim,
anotações de neuroses
estritamente pessoais.
não há coerencia linguistica nem tematica.

para que escrever?
este é o dilema.
o que sou eu é o dilema também.

nova lógica ou destruição da lógica?
a astróloga dissera que eu viria a fazer análise
pelo que o mapa mostrava por volta dos 23 años.

coisa em si

eu sou bem prolixo nos textos todos
incoerente não
mas troco a estrutura
retifico-a
desestruturando-a de
sua científicidade
pra que alguma coisa valha mais do que a lógica,
mas nao vale de nada,
entendível não é,
universal, o que seria isto?
eu não tenho força linguistica para reestruturar uma escrita.
deve haver algo importante na lógica...
eu estive pensando que não há lógica o suficiente
em minha escrita, e a idéia só interessa a mim, mas nem a mim,
porque eu não escrevo o que deve de ser dito para que a coisa exista
claramente;
coisa em si.

um pouquinho bem pouco mas nada da essencia mesmo

dexavar maconha
sobre disco
do chili pepper´s

pés descalços em pleno inverno
em pleno início
parca alegria

dinheiro parco
mas teve sol
sob lençóis no varal

baseado só eu
queimo sozinho
você dorme aqui

nao em meu peito
noturno deserto
fria ventania

você dorme no sofá
nem brigamos
não somos um

quem dera
seria bom apenas
se fizemos bem um ao outro

mas morremos
melancolicos
tanto

eu não queria falar exatamente isto, mas não tenho memória para escrever textos sobre algo especifico, e aqui eu elejo um grão pra falar um pouquinho bem pouco mas nada da essencia mesmo, pensando bem.