quinta-feira, 12 de novembro de 2009

lhe abandonar

eu estou sem poemas
eu rompi nossos laços
eu estou cheio de saudades

embora eu queira lhe rever
pra dizer o que faltou
em outras palavras
eu ainda lhe tenho amor

a noite quente me diz isto
explicíta no céu a cor
das palavras o que restou
de tudo o que ainda ficou

aqui, no coração
garganta, alma
onde os olhos esperam
como barcos marejados

e no cais abandonado
eu também espero,
cheio de amor
(e também pudor)

por haver lhe deixado.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pierre

Pierre Rivière em suas mãos
nas páginas impressas
as palavras de Foucalt,
os seus olhos.

os seus olhos são demasiado belos
tais quais bolas de gude
do mais belo marrom
do marrom cristalino
qual em seu essencial,
puro não é.
mas os seus olhos
tem o marrom da natureza
e são
e sua pureza me espelha
e me espalha
feito um Pierre bom.

mas quando Pierre saiu pela porta de traz
deixando os corpos ensangüentados ao chão
com sua tez de tristíssimo marrom
os teus olhos brilharam por isto.

à Daniela Avancini

não-ser

derreter
porvir
indo mais pro não-ser
tentar escrever
ou apenas tentar
saudade do meu amor
faz calor aqui
o som esta alto
as palavras embaralham-se
as crianças brincam
uma aeronave plana perto
- estrondo
ruído -
que não comove
nem tampouco doí
a nao ser o mormaço
e esta saudade
por ti
porque ontem
você partiu silencioso
e agora anoiteceu
e não há nada
mas as cigarras trinam a música de Carlos,
e voce se foi.
mas eu ia dizer sobre o céu
mas faz um calor sobre-humano.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

servil

linguagem
é questão babuína
babuínos foi provado
que não fomos nós,
eu vi na televisão.
o dia amanhece.
escrever
outras coisas
que não só
trabalhar
pro poema
me deixa exausto,
posto que ninguém
vá entender lhufas
por que não quer,
mas eu sou astuto
e escrevo servíl
à poesia
e só.
quer leia quer não
eu sou um televisor blindado.
porquanto, também poético.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

poema quebrado

cavalo sobre nova iorquina rua
sóis edificações ao fundo
descrição memorial seria
pelo tal esta fotografia.
qual é a grafia de meu olhar?
sobre isto que é síntese de imagem
e que rebate sobre mim guestáltico
embora eu não saiba o que isto signifique,
pois isto é quase pra mim
algo enigmático demais
porque as palavras por fim
é o que me traz
às visões servís a algo maior,
a poesia, e só.

embora isto seja tudo.

à Lígia Nocera

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

infortúnios

a deixar lágrimas
sobre os ladrilhos da calçada
encharcados pela chuva que há dias
cai, incessantemente, num diluvio
abarcado pela montanhas deste aquário
que é minha cidade, deste aquário industrial
e junto ao tal dilúvio,
eu também caio.

em nuvens

entupir-se de xarope de cola
lembrar-me de você
fotografia de franz marc
tão "gauche"
tão para o quadro fauve
tão sozinho sobre as paredes caiadas
do quarto da criada de G.H
mas a noite é tão para me lembrar
de você
tão cheia de luares
e de ventos quentes
e o sono vem em nuvens
e o céu é lilás e translúcido daqui.