quarta-feira, 24 de junho de 2009

tesos conceitos

sobre telas azuis
minhãs mãos
trabalham
à tinta
à tona turquesa
e um rosa carmim
em seu fim para mim
apenas
e as janelas suam
os pincéis esperam
há amarelos também
mas dentro de negros
de ultramar
lembro-me de céu lilás
sobre lilázes ladrilhos,
monocromático
de que eu gosto tanto,
disso que não
são
contraposições
de chapadões
de cor
de meus olhos
cheios de luz
de drama
das tramas
da rima da pintura,
de sua feitura,
dedos em pincéis
tesos
sobre tesos fios
de algodão
ou de tecido sintético,
seja o que for,
acima de tudo,
tesos conceitos plásticos
escritos aqui
nesta linguagem
de tortos conceitos
quando corro contra o tempo
do relógio, da madrugada
do frio, da impaciência,
da televisão,
embora amor.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

c´est la vie

a vida
é como um fio de veludo.
eu tive esta compreensão
no meio do campo
num sítio bem distante
ante a um cercado
de arame farpado
que me separava
das vacas e dos bois
nossos iguais
sobre fina garoa e céu
cinza coisa bucólica,
e houve uma lágrima
que me mostrara
que a vida é mesmo um fiozinho
e que meu amor
não mais voltaria.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

das antike

eu
por sob
lágrimas
de alegria
e de saudade
de um tempo
restante apenas
em fotografias
esmaecidas pelo
tempo,
e a memória dalí
salvada surrealmente
pela celulose
matéria
e mais nada
e as traças
que nao ousem
tocá-las,
as fotografias,
de quando eu
ainda nem havia,
e Margarida era feliz,
e o mar,
e papai,
e a decada de setenta
em seu rompante
de futuro
embora bucólicamente
em tom de poesia
da mais pura,
cores pardas
e tons suaves
e sorrisos de alegria
a um palmo
do que se tornaria
degradação e caos
e loucura
da humanidade
neste inicio de século
e fim de era
de um cosmos
que não mais existe para nós
se não em contrafações
diluídas em milhões,
e as raízes já apodreceram
a um bocado de tempo.

felizes éramos quando ainda não éramos nem nascidos.

pelo entanto

chove
sono não chega
cega-me a vista
um cisco
e pelo visto
pelo entanto
não há nada que se escreva.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

madrugada eterna

chuviscos voltam a cair
sob os casarios e os jardins

medito sobre o parapeito
dos janelões de sombras e reflexos
de postes e resquícios de luzes sob céu

é madrugada eterna
e é melhor assim

ao que constato
que minha cidade
dorme eternamente.

aconchego

seis
matina
madruga
ainda
novo dia
vem vindo
palavras também
suponho isto
e estes pobres versinhos
fazem só me aconchegar,
mas ainda tenho meu soninho
pra tirar
sobre os travesseiros
e sob o cheiro
do meu amor.

acerca de meu sol saturnino

quase amanhece

em mim

aqui

e quase amanheço

à ti

em meu sol de pedra cinza e maçica

e nada precisa de ser claro entendível ou belo

para que seja mesmo belo

é o belo é belo para o homem burro

eu

que não enchergo em meu sol bruto

de cinza aspereza feito

feito não sei de que e de que matéria

sua beleza.

e me perdi à ideia inicial

embora

ninguém me leia

embora

isto eu não queira,

eu não queira.

terça-feira, 9 de junho de 2009

irremediávelmente

mamãe dorme aqui
tão próxima de mim
como há tempos
não dormia
desde quando
criança eu era
talvez
tão cansada e resguardada
pelo deus do sono
e do descanso
e a chuva lá fora
constante cai
constato que é
joinville minha
ainda
triste e linda
triste e linda.
mamãe também,
com seus olhos marejados
de cansaço e amor
quando cheguei
da estrada
em chuva.

meu estado febril,
minha coriza,
minha melancolia,
me impedem de garantir
a coerência,
tão como o término
deste texto, cujo o fim
possivelmente seria

"e eu não posso no tal entanto
ama-lá irremediavelmente"

ou

"e ela dorme como um anjo
ou como um pássaro quando dorme."

segunda-feira, 1 de junho de 2009

imortal

enjôo.
eu não queria isto,
mas foi um vômito
de palavras
que nunca de todo haviam existido
por sob a pele
por sobre agulhas
que me dão medo.
definitivamente
eu não gosto do hospital
de suas luzes
do tom impessoal
eu sou gente
amor,
sim.
mesmo sendo tratado friamente
como nada
por entre médicos
e enfermeiros,
como se eu não fosse
um tanto quanto
o gênio de um gênio,
aquele que não morre nunca,
meu bem,
eu irei renascer das cinzas.

essência

eu queria era ser esquimó.
cheiro enjoativo de aromatizador de ar.
esquimós pelo tanto de frio
não se tocam
ou pelo tanto de frio
muito se aproximam.
eu queria ser esquimó
e perdi completamente o poema do qual vislumbrei
à beira da varanda fria
quando a lua caía
sob a coisa vazia
da noite fria
fria
sobre frios azulejos
eu exausto do vinho
da vida
do xarope
da uva
da fruta
e também da essência de que nâo mais têm.

fria hora

horas passam ao vento
à madrugada
narinas e pés congelam
cada gole da coca-cola gelada
é um momento vívido
dedos frios sobre teclas impessoais
quais não dizem nada por si sós
nem tampouco acerca de nós
isto jamais.
medo desta hora gelada
as seis de uma manhã sem nada
marca o ponteiro
sem nada que esquente
o tempo corre
meu medo discorre
da vida
eu estou nessa cama há dias
escondo-me sobre os cobertores
mil versos perdi à deriva das horas vagas
que correm sob película plástica
de um relógio digital
impessoal
ao lado da cama
ponteiros morrem
sequer levanto
medo de uma morte iminente
à vida que eu já esvaziei
de querer.
durmo têm dias com a culpa
das horas já antigas
passadas
esvaziadas
de uma juventude
por mim desconhecida.
não tem sol há dias
júpiter também se foi
meu amor inexistiu
eu não existo
escondo-me
sob profusões confusas
de palavras à merce da dor
de não mais existir
de nunca haver existido
de fato
de todo
quem vai saber?
está frio aqui
deus não há aqui
e eu tenho medo de morrer.